Crenças – (3)-Definindo Religião

   Com a evolução da humanidade, consolidaram-se definições fundamentais para influenciar e conduzir o comportamento das sociedades com um conjunto de princípios, crenças e práticas baseadas em doutrinas, unindo seguidores numa mesma filosofia ética e comportamental que tiveram suas bases definidas no estudo dos seguintes temas:

Dualismo

   Significa que tanto na criação quanto no homem existe uma mistura de bem e de mal que é distinguível mesmo quando ambas existem lado a lado.

Cosmogonia

   Define um contraste de esferas, como luz/trevas, espírito/alma versus matéria/carne e conhecimento/ignorância. No primeiro traço, aborda o dualismo em Deus, através da criação dividindo  o lado bom (luz, espírito e conhecimento) do lado mal (trevas, matéria e ignorância)

Soteriologia (salvação)

   Através da redenção, é entendida como conhecimento da natureza dualista da criação, onde prioriza a salvação do espírito não material dentro das pessoas. Não há salvação da matéria.

Escatologia (aprendizado)

   Significa o conhecimento sobre o destino da existência através da redenção do espírito. A pessoa deve compreender o valor espiritual acima dos outros elementos da existência, estabelecer uma conexão com o espiritual e ter o senso de separação com o mundo material.

   Estes fundamentos, serviram de base para a construção das primeiras religiões, como o Bramanismo e outras cujos grupos ou comunidades aplicaram interpretações diferentes, ou simplesmente modificaram suas aplicações.

Não existe o bem e o mal, apenas circunstâncias. O homem apoia fatos e circunstâncias para guiá-los. Se houvesse princípios e leis fixas, as nações não as mudariam, e não se pode que um homem que seja mais sábio do que uma nação inteira.”
Honoré de Balzac 1799-1850

   Para Karl Marx, a religião é uma projeção sociológica, uma vez que o homem fez a religião e não a religião fez o homem.

   Para Erik Homburger Erikson, religião é o resultado da tradução em palavras, imagens e códigos significativos do excesso de obscuridade que envolve a existência humana.

   Conforme Irineu Sílvio Wilges, a religião é um conjunto de crenças, leis e mitos que visam o poder que o homem considera supremo, do qual se julga dependente.

   Edward Byrne Breitenberger afirma que a religião é um sistema simbólico que articula o pensamento de que há uma fonte de moral por trás do mundo.

   Já Sigmund Freud, explica que a religião é uma ilusão infantil, que permite ao homem lidar com sua condição de desamparo, sendo assim, um sistema de defesa constituído pela sociedade.

   Para Melville Jean Herskovits a religião, como outros aspectos da vida, é um elemento ativo da cultura, através da sua influência.

   Ludwig Andreas Feuerbach, define que a consciência de Deus é a consciência que o homem tem de si mesmo; o conhecimento de Deus é o conhecimento que o homem tem de si mesmo. Pelo Deus conheces o homem e vice-versa pelo homem conheces o seu Deus; ambos são a mesma coisa.

   Em regra, o que confere valor a uma religião não é a importância de seu fundador, os ensinamentos, os dogmas ou mistérios e ritos, mas a sua função para a vida coletiva.

   A religião ensina a reconhecer e a respeitar as regras do convívio social, tanto pelo aspecto coercitivo como pelo caráter persuasivo do consenso coletivo.

   Atualmente existem centenas de religiões no mundo, e o único ponto em comum é que todas reivindicam o direito de ser a “única correta” e todas as outras estão erradas, ou quase.

   Na religião tradicional chinesa competem diretamente o Budismo, o Confucionismo e o Taoismo (politeísmo) e tem como Deus Supremo Shang ti, para o qual os fieis não podem prestar culto diretamente por se considerarem demasiados pequenos e humildes perante ELE.

   Na China existem pouco mais de 10 milhões de católicos em meio a uma população de mais de 1,5 bilhão de habitantes, mesmo assim, os católicos são divididos naqueles que seguem a Igreja oficial, com os clérigos indicados pelo governo comunista, e os que seguem o papa que são perseguidos pelo regime.

   No Japão, 51,82% define-se como Shinto (ateísmo) 34,9% são Budista, 10,98% Organizações Shinto e Outros e apenas 2,3% são Cristãos.

   De acordo com dados de 2012, os sistemas religiosos em relação à população mundial são: cristianismo (28%); islamismo (22%); hinduísmo (15%); budismo (8,5%); pessoas sem religião (12%) e outros (14,5%).

   A Constituição da Rússia afirma que o país é um estado laico, mas dados de 1997, afirmam que as religiões tradicionais da Rússia são a Igreja Ortodoxa Russa, o Islã, o Budismo (principalmente lamaísta) e o Judaísmo, de modo que todos têm o direito às práticas religiosas. As demais devem pedir autorização oficial, contrariando a definição de estado Laico.

   Na Coreia do Norte há uma predominância dos “sem religião” correspondente ao Shinto no Japão, enquanto na Coreia do Sul há maioria budista tradicional, entretanto há um grande crescimento da ideologia cristã disputada pelos católicos e protestantes.

   Na Austrália, em 10 anos o número dos “ateu”, “agnóstico” ou “sem religião” aumentaram de 19% para 30%, dados de 2016, embora a maioria seja Cristã, enquanto nos Estados Unidos este numero passou de 16,1% em 2007 para 22,8% em 2014.

   No Brasil, este numero em 2010 era de 8% ficando atrás apenas dos católicos e evangélicos.

  Estariam as pessoas duvidando da fé e dos dogmas ou o crescimento do conhecimento humano está dando razão aos gnósticos?

   A religião, assim como a política, usa a ideologia para a manipulação das massas, de um lado oferece o bem-estar pessoal e coletivo e do outro o bem-estar espiritual e divino, sem perder de vista o dualismo da relação, ou seja, dar algo em troca da fé.

   A fé dominante tem grande importância nas decisões políticas, como mostra o levantamento feito no mesmo estudo a seguir.

Em quem você votaria?

   Conforme o Antigo Testamento, Javé, Deus de Israel, entregou suas leis para organizar a multiplicidade de credos que existia no convívio da sociedade, e mais uma vez, o Dualismo estava presente quando definiu a forma das oferendas nos seus sacrifícios em troca das suas bênçãos.

   A religião influencia diretamente os aspectos políticos da sociedade. Temos ao longo da história, o exemplo das cruzadas, na participação da igreja estimulando a guerra para a retomada de Jerusalém, oferecendo “indulto” (perdão e acesso ao paraíso e à vida eterna) aos nobres que se dedicassem a lutar. As constantes e infindáveis Guerras Santas que ainda hoje permanecem na região Palestina em uma luta sem fim, mesmo que usadas como pano-de-fundo para interesses geopolíticos.

   A religião sempre influenciou diretamente o desenvolvimento social e político da humanidade desde os primeiros homens.

A religião é construção cultural das sociedades, pois, fundamenta as exigências mais específicas da ação humana nos contextos mais gerais da existência humana”.
(GEERTZ, 2008).

   Nas religiões mais antigas, o culto à morte foi a primeira ideia acerca do sobrenatural e fez o homem confiar no que não via, estabelecendo uma ideia primitiva de religião, considerando o morto como um Deus e seu túmulo um templo.

   A Reforma Protestante se contrapôs aos preceitos e dogmas do catolicismo, surgindo várias seitas, entre elas a de João Calvino, cuja evolução na Inglaterra coincidiu com o aparecimento do modo de produção capitalista.

   O ascetismo calvinista valoriza o trabalho, o lucro e as riquezas materiais. O católico busca assegurar a salvação pela virtude, o arrependimento e a penitência, ambos vivem sem saber se realmente serão salvos ou condenados, levando-os a buscarem constantemente sinais de concessão da graça divina.

   Quando uma pessoa declara sua religião, está declarando não somente sua fé, mas os princípios filosóficos que o conduzirão no seu convívio na sociedade e no engajamento político baseado nas suas crenças.

   De posse destas e outras definições ao longo do tempo e das diversas correntes e tendências intelectuais, podemos definir que a melhor definição de religião seria um apanhado de todas elas:

A religião é resultado da tradução em palavras, imagens e códigos, compondo um conjunto de leis extraídas de crenças, lendas e mitos em um sistema simbólico que articula o pensamento, constituindo uma projeção sociológica.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *