Crenças – (5) – Um pouco mais sobre o Cristianismo

 O cristianismo primitivo teve seu início com o movimento judaico que apelava para a promessa de Deus nas escrituras de Israel. No início havia Jesus e os apóstolos, afirmando que Jesus cumpriria as promessas de Deus.

 Ainda hoje, as promessas são discutidas mesmo quando foram pronunciadas pela primeira vez, em Gênesis 3.15, quando Deus disse que a semente do homem esmagaria a cabeça da serpente! ou no texto de Isaías 9, onde é descrita uma figura messiânica e libertadora! Ou ainda em Daniel 7.13-14, onde o homem cavalga as nuvens com autoridade divina, ao que parece está na composição destes textos.

 O surgimento de Cristo foi um elo que faltava entre a divindade e o homem comum causando uma maior sensação de proximidade, enfim, os homens estavam mais próximos de Deus.

 Todas as religiões ou doutrinas precisam de um apelo forte e inquestionável para conservarem a aura de misticismo e dependência psicológica através da geração de crenças comportamentais inquestionáveis e ancoragem de sentimentos, transferindo as crenças para o inconsciente.

 A mensagem de amor ao próximo e de vida simples, pregada por Jesus, provocou uma sensação de liberdade e respeito indicando uma maior igualdade entre os indivíduos, em contrapartida, ao regime imperialista e escravagismo que imperavam no mundo romano.

 A escravidão, a mistura de raças e a intolerância, além das dominações políticas, provocavam uma desvalorização nos conceitos humanos que foi aplacada com a doutrina de Cristo, subvertendo a ordem estabelecida e oferecendo uma harmonia de respeito e simplicidade.

 Esta mudança na ordem contrariou muitos interesses, principalmente das religiões estabelecidas e dominantes com a fuga maciça de fiéis causando reações de retaliação e culminando com a eliminação de Jesus.

 A Igreja Católica organizada que hoje conhecemos surgiu pelas mãos de Constantino, O Grande, (Favius Valerius Constantino ou Constantino Magno) guerreiro, administrador e hábil político.

 Durante a batalha pelo Império Romano em 312 DC, na Batalha de Turim e Cerco de Segúsio, onde derrota Magencio, Constantino inferiorizado no numero de soldados, motiva seus guerreiros antes da batalha final contando para todos que tivera uma sonho revelador em que uma cruz brilhante pairava no céu e uma voz disse-lhe que se usasse a cruz como símbolo, sairia vencedor.

 Antes da batalha, orientou a todos os soldados que pintassem a cruz em seus escudos e em suas capas. Saiu vencedor da batalha e unificou o Império Romana, vencendo os outros três oponentes.

 Podemos especular que Constantino percebendo a decadência do Império Romano pós-guerra e as invasões bárbaras, tenha gerado esta lenda para criar empatia para seus planos de unir o Império pela religião e comandá-lo pela autoridade divina do braço religioso, a Igreja de Roma.

 Nesta época, a doutrina católica era disputada por inúmeras ramificações dos ensinamentos de Jesus, e propagados através de evangelhos escritos pelos apóstolos com conteúdos nem sempre concordantes, embora mantivessem sua essência.

 Os cristãos eram livres para seguir o Evangelho que quisessem, mas essa liberdade gerava muita confusão porque uns acreditavam haver apenas 1 Deus, outros que eram 2, outros acreditavam serem 30 e alguns reverenciavam a 365 Deuses.

 Dessa forma, o catolicismo não tinha unicidade suficiente que gerasse uma autoridade centralizada e Constantino resolveu fortificá-lo.

 Iniciou-se através do batismo, aprofundou suas pesquisas e adotou o catolicismo como a religião oficial no Império de Roma.

 Para unir as conflitantes correntes católicas em disputa, organizou a primeira conferência ecumênica dos bispos católicos no Concílio de Nicéia em 325 DC.

 Neste encontro, além de decidir sobre a origem divina de Jesus, vencendo a Heresia de Ários, foram definidas as correntes doutrinárias para servir de base em um texto único da doutrina cristã que deveria ser seguida por todos.

 Comenta-se que ao construir a nova Constantinopla, hoje Istambul, Constantino construiu a Igreja dos Santos Apóstolos, com 13 mausoléus onde o 13.º era reservado para ele, pois se considerava um dos apóstolos e enviado por Deus para preservar a Igreja católica.

 Em toda luta há vencedores e perdedores, e para garantir a unificação, Constantino empreendeu a perseguição a todas as outras correntes doutrinárias católicas provocando a prisão, morte e fuga dos seus representantes espalhando-os pelo mundo para garantir a preservação dos seus evangelhos.

 Entre as correntes perdedoras, possivelmente pelas suas características mais científicas e menos místicas, os Gnósticos foram considerados hereges e suas pregações proibidas, embora muitos dos evangelhos gnósticos serem originados de alguns dos próprios apóstolos de Jesus como Tomé, Judas, Maria Magdalena e outros.

 Os textos escolhidos para unificação deram origem à versão da Bíblia Sagrada como a conhecemos contendo textos de Lucas, Mateus Marcos e João.

 Surgem assim, os Evangelhos Apócrifos, descobertos recentemente em bibliotecas no Egito, e uma grande parte enterrados nas redondezas da cidade de Nag Hammadi, que trazem à luz, outras versões dos ensinamentos de Jesus, através de evangelhos escritos pelos apóstolos ignorados, conduzindo à interpretação da visão Gnóstica de Jesus e que foi escondida das escrituras sagradas.

 Em recentes descobertas de bíblias apócrifas constata-se a atuação importante de Maria madalena, como dona de uma visão própria do catolicismo e de Deus, definindo-se como gnóstica e conselheira de Jesus.

 Este relacionamento atraiu ciúmes e inveja dos outros apóstolos que de forma seletiva procuravam sempre apagar suas atuações e influência, tanto pela natureza machista da época como por discordar da sua visão gnóstica.

 Tomé, o mais cético, sempre questionando as visões místicas de seus pares, define em seu evangelho frases que atribuiu a Jesus como uma visão puramente gnóstica. Estes textos de alguma forma foram também definidos nos evangelhos de Maria Magdalena.
Vejamos o Evangelho de Tomé:

Disse Jesus: O reino está dentro de vós e também em vosso exterior. Quando conseguirdes conhecer a vos mesmo sereis conhecidos e compreendereis que sois os filhos do Pai Vivo. Mas, se não vos conhecerdes vivereis na pobreza e sereis a pobreza”.

 Não podemos deixar de estimular nossas tendências especulativas sem fazer uma análise de vários aspectos da história de Jesus Cristo, sem questionar alguns fatos com a visão estritamente científico-filosófica que se tornaram tão importantes na evolução do Cristianismo.
– Definição da natureza de Jesus Cristo

 O Primeiro Concílio foi o de Constantinopla, que se realizou em 381, onde foi debatido como prioridade a natureza de Jesus Cristo, frente ao arianismo.

 A doutrina de Ário (250-336), padre cristão de Alexandria (Egito), que afirmava ser Cristo a essência intermediária entre a divindade e a humanidade, negava-lhe o caráter divino e ainda desacreditava a Santíssima Trindade.

 A humanidade estava habituada a se relacionar com Deuses, no plural. A própria igreja estimulou o caminho de mediação entre o homem e a crença cristã por meio da Santidade, emprestando ao seu monoteísmo, característica politeísta para conquistar um número maior de fiéis.

 Para essa interação é necessária a existência de um elo espiritual palpável que não poderia simplesmente surgir sem explicação aceitável mantendo a sensação do imaginário, devendo ser assim, filho do homem e de Deus. Surge assim, a concepção de Cristo através da virgem Maria.

 Essa visão foi concretizada através da Santíssima Trindade, manifestações distintas entre o PAI, FILHO e ESPÍRITO SANTO.

– Herodes e os Primogênitos

 Na época do nascimento de Jesus, ocorreu a mortandade provocada por Herodes que exterminou todo filho primogênito nascido naquela data para assim tentar eliminar o Messias, afinal, Jesus era o anunciado rei legítimo dos judeus, profetizado nas Escrituras e aguardado pelo povo.
Herodes não poderia competir contra alguém assim. Ele perderia o trono. E se tivesse Herodes tivesse exito no assassinado de Jesus naquela ocasião?

– Do nascimento ao retorno

 Seu desaparecimento e total obscuridade na história desde seu nascimento até seu ressurgimento perto dos 30 anos conforme o evangelho de lucas (Lucas 3:23). Era o mesmo homem? Como evoluiu em conhecimento? Quem o orientou? Onde aprendeu?

– Triste peregrinação

 A triste coincidência da peregrinação de Jesus é que em todos os caminhos que ele percorreu  em sua jornada, permanecerem envolvidos em conflitos religiosos até os dias atuais, apesar dos seus sábios ensinamentos.

– A escolha de Pôncio Pilatos

 A decisão de Pôncio Pilatos de entregar à população a decisão da escolha da condenação entre Jesus e Barrabás, e desafio o leitor a especular o que teria acontecido com o Cristianismo se o escolhido para ser crucificado tivesse sido Barrarás?

– O Martírio

 Continuo com a especulação sobre a simples morte de Jesus sem o sofrimento que o transformou em Mártir, culminando com sua ressurreição fixando ainda mais sua ligação com a divindade.
Caso Jesus simplesmente tivesse morrido, ou ficassem anos na prisão, toda crença implantada sobre sua divindade desapareceria com ele?

 O martírio tornou-se peça fundamental na liturgia católica. Em todas as missas, comemos a carne e bebemos o sangue de Cristo, tornando-se a única religião que prega o martírio e a morte como única forma de salvação e conquista do paraíso.

– A Ressurreição

 A ressurreição foi ato presenciado apenas por alguns, Madalena e Maria mãe de Jesus, mas amplamente divulgada como fato, consolidando a crença já estabelecida e agora passada para o inconsciente coletivo de forma inquestionável, pois agora se referia à Divindade.

 Todo o progresso do Cristianismo estaria encerrado para sempre se não houvesse a crença da ressurreição, transpondo Cristo para o campo do inatingível e inquestionável.

– E se Jesus voltasse? (trecho transcrito de um artigo do blog)

  Em 2018 tive o prazer de conhecer Roma, e como não podia ser diferente, o Vaticano, menor país do planeta e o mais poderoso em riquezas e influência. Desnecessário me estender sobre as belezas históricas de Roma de ver com os próprios olhos os resquícios arquitetônicos da evolução humana através das proezas do império romano.

   Confesso que minha descendência italiana deu-me um prazer especial, pois meu bisavô Pieluigi Ciarlini nascido em Reggio Emilia, região de Bologna, Itália em 1877, veio para o Brasil para escapar da perseguição política devido sua participação na Carbonária, uma sociedade secreta e revolucionária que atuou na Itália, França, Portugal, Espanha, Brasil e Uruguai, fundada na Itália e sua ideologia assentava-se em valores patrióticos e liberais, além de se distinguir por um marcado anticlericalismo. Participou nas revoluções de 1820, 1830-1831 e 1848. Mas isso, é outra história.

   Desde meu retorno, esquecido a empolgação da viagem, algumas imagens e questões ficaram rondando minha cabeça de questionador. Nunca vi tanta riqueza e exploração da fé, como presenciei na Basílica de São Pedro no Vaticano.

   Esquecendo as belezas arquitetônicas, lembrei de parte da história de Jesus Cristo, quando repudiou e expulsou aqueles que denominou de vendilhões da Fé de dentro de uma mesquita, e para meu espanto aquilo que irritou Jesus estava acontecendo na minha frente e em larga escala.

   Acho aceitável a cobrança de ingressos para visitar a Basílica, afinal precisa ser preservada e isso requer investimentos, mas vender água benta, santinhos, pulseiras e acessórios benzidos, soou como desobediência a mais sagrada orientação de Jesus, a simplicidade e o desapego aos bens materiais.

   Olhando para o passado, veremos que a Igreja Católica sempre corrompeu os ensinamentos que herdou, pois, desde seus primórdios, vem usando a fé humana como fonte inesgotável de enriquecimento e a prova disso são as incontáveis Igrejas suntuosas e repletas de riquezas, tudo em nome da Fé.

  Somemos a isso, a venda de Indultos nas Cruzadas, a Inquisição e a forte influência nos governos em todos os cantos do planeta.

   Lá, no meio da Basílica, extasiado com tanta beleza arquitetônica, pude me dar ao luxo por alguns minutos de me reportar ao passado e imaginar aqueles salões repletos de cidadãos da realeza e se os pobres também participavam das suas missas, e para meu espanto me veio a mente uma pergunta como se explodisse no meu cérebro: E se o próprio Jesus entrasse por aquela porta, o que ele faria?

   Não sou religioso, mas eu mesmo tive vontade de gritar: porque vocês estão desrespeitando tudo que juraram defender? Vocês não se envergonham de vender a Fé? Não basta o quanto já fizeram até hoje?

  Naquele instante de revolta e reflexão, lembrei da maior esperança do catolicismo, o retorno de Jesus e voltei à pergunta original: e se Jesus realmente voltasse? Seria facilmente aceito? O que diria para convencer que era ele mesmo? Teria que fazer milagres?

   Nestes dois anos depois da visita, tenho perguntado a muitas pessoas em debates sobre religião o que aconteceria de realmente se Jesus voltarsse? Se pregasse em uma praça pública, seria escutado? Se surgisse flutuando no céu, seria um truque de magia? Se curasse algumas doenças, seria como alguns cultos messiânicos caças niqueis espalhados pelo mundo, curas combinadas? Qual sua real aparência?

   Não me surpreendi com as respostas que ouvi até então endossado a teoria de Ludwig Feuerbach de que a fé não é razão, é sentimento, ou seja, se ele voltar nos saberemos, eu acredito, então ele existe!.

   Difícil acreditar que um dia saibamos se isso aconteceu e não enxergamos ou se acontecerá e não enxergaremos, mas de todos os ícones máximos das diversas égides religiosas, foi o único que prometeu voltar um dia e separar os justos.

   Independentemente da ocorrência, me pergunto, realmente precisamos que volte? Se voltar é porque não fizemos o dever de casa do ponto de vista de qualquer religião como seres humanos e merecemos ser justiçados, que já está acontecendo com a pandemia do COVID-19.

   Esta Pandemia é um alerta sob qualquer perspectiva observativa e sendo ou não um alerta divino, cada um escolhe sua perspectiva, é um alerta de sérias consequências para a humanidade, ou mudamos o rumo da evolução da espécie humana como humanos dignos, ou seremos extintos

1 comentários em “Crenças – (5) – Um pouco mais sobre o Cristianismo

  1. Muito bom artigo. Excelente narrativa. Algumas perguntas podem ser respondidas com a cultura do “destino” da “vontade de Deus”. Morte, martírio, ressurreição, a escolha de Pôncio Pilatos, tudo era inevitável aos olhos de quem crer.

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