E se Jesus voltasse?

   Em 2018 tive o prazer de conhecer Roma, e como não podia ser diferente, o Vaticano, menor país do planeta e o mais poderoso em riquezas e influência. Desnecessário me estender sobre as belezas históricas de Roma de ver com os próprios olhos os resquícios arquitetônicos da evolução humana através das proezas do império romano.

   Confesso que minha descendência italiana deu-me um prazer especial, pois meu bisavô Pieluigi Ciarlini nascido em Reggio Emilia, região de Bologna, Itália em 1877, veio para o Brasil para escapar da perseguição política devido sua participação na Carbonária, uma sociedade secreta e revolucionária que atuou na Itália, França, Portugal, Espanha, Brasil e Uruguai, fundada na Itália e sua ideologia assentava-se em valores patrióticos e liberais, além de se distinguir por um marcado anticlericalismo. Participou nas revoluções de 1820, 1830-1831 e 1848. Mas isso, é outra história.

   Desde meu retorno, esquecido a empolgação da viagem, algumas imagens e questões ficaram martelando na minha cabeça de questionador. Nunca vi tanta riqueza e exploração da fé, como presenciei na Basílica de São Pedro no Vaticano.

   Esquecendo as belezas arquitetônicas, lembrei de parte da história de Jesus Cristo, quando repudiou e expulsou aqueles que denominou de vendilhões da Fé de dentro de uma Igreja, e para meu espanto aquilo estava acontecendo na minha frente e em larga escala.

   Acho aceitável a cobrança de passes para visitar a Basílica, afinal precisa ser preservada e isso requer investimentos, mas vender água benta, santinhos, pulseiras e acessórios benzidos, soou como desobediência a mais sagrada orientação de Jesus, a simplicidade e o desapego aos bens materiais.

   Olhando para o passado, veremos que a Igreja Católica sempre corrompeu os ensinamentos que herdou, pois, desde seus primórdios, vem usando a fé humana como fonte inesgotável de enriquecimento e a prova disso são as incontáveis Igrejas suntuosas e repletas de riquezas, tudo em nome da Fé.

  Somemos a isso, a venda de Indultos, as Cruzadas, a Inquisição e a forte influência nos governos em todos os cantos do planeta.

   Lá, no meio da Basílica, extasiado com tanta beleza arquitetônica, pude me dar ao luxo por alguns minutos de me reportar ao passado e imaginar aqueles salões repletos de cidadãos da realeza e se os pobres também participavam das suas missas, e para meu espanto me veio a mente uma pergunta como se explodisse no meu cérebro: E se o próprio Jesus entrasse por aquela porta, o que ele faria?

   Não sou religioso, mas eu mesmo tive vontade de gritar: porque vocês estão desrespeitando tudo que juraram defender? Vocês não se envergonham de vender a Fé? Não basta o quanto já fizeram até hoje?

  Naquele instante de revolta e reflexão, lembrei da maior esperança do catolicismo, o retorno de Jesus e voltei à pergunta original: e se Jesus realmente voltasse? Seria facilmente aceite? O que diria para convencer que era ele mesmo? Teria que usar milagres?

   Nestes dois anos depois da visita, tenho perguntado a muitas pessoas em debates sobre religião o que aconteceria de Realmente acontecesse? Se pregasse em uma praça pública, seria escutado? Se surgisse flutuando no céu, seria um truque de magia? Se curasse algumas doenças, seria como alguns cultos messiânicos caças niqueis espalhados pelo mundo, curas combinadas? Qual sua real aparência?

   Não me surpreendi com as respostas que ouvi até então endossado a teoria de Ludwig Feuerbach de que a fé não é razão, é sentimento, ou seja, se ele voltar nos saberemos, eu acredito, então ele existe!.

   Difícil acreditar que um dia saibamos se isso aconteceu e não enxergamos ou se acontecerá e não enxergaremos, mas de todos os ícones máximos das diversas égides religiosas, foi o único que prometeu voltar um dia e separar os justos.

   Independentemente da ocorrência, me pergunto, realmente precisamos que volte? Se voltar é porque não fizemos o dever de casa do ponto de vista de qualquer religião como seres humanos e merecemos ser justiçados, que já está acontecendo com a pandemia do COVID-19.

   Esta Pandemia é um alerta sob qualquer perspectiva observativa e sendo ou não um alerta divino, cada um escolhe sua perspectiva, é um alerta de sérias consequências para a humanidade, ou mudamos o rumo da evolução da espécie humana como humanos dignos, ou seremos extintos.

   Estamos tendo a oportunidade de recomeçar e olhar para um planeta sem fronteiras, distinção de raças e posição social, afinal estamos todos na mesma nave espacial chamada terra.

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