Herança moral, a mais valiosa.
Saí de Parnaíba com 15 anos, imaturo, inseguro e entendendo muito pouco da vida para estudar em Fortaleza, à época o sonho de todo Parnaibano. Fui morar com um tio que há poucos meses havia mudado de Parnaíba para Fortaleza com meus primos.
Em Parnaíba, eles moravam em casa vizinha à nossa com um portão que unia além da casa deles, a dos nossos avós e de outro tio, ou seja, tínhamos um cordão umbilical que unia todos os primos como se fosse uma única moradia. Essa convivência provocou não só parentesco, mas uma irmandade, pois o que sentimos entre nós é que somos irmãos.
Estudar em uma cidade grande exige a mudança de muitos paradigmas e sobretudo a definição e provação dos nossos conceitos, pondo à prova nossos valores, temores e incertezas, assim como nos coloca à frente de desafios que nunca pensamos existir.
Retornava a minha cidade nas férias e meus pais se desdobravam em me receber e aos meus amigos e primos com tanto amor e alegria e demorei a perceber o valor que isso teria em meu futuro. Minha chegada era motivo de festas, almoços e muitos passeios felizes. Admito que fui egoísta em não dedicar mais do meu tempo a eles, pois levava sempre amigos e participávamos de tertúlias, saraus, pescarias e festas. Parnaíba era pródiga em produzi-as.
Com o avanço dos meses percebi trazer comigo, de forma inconsciente ensinamentos preciosos que nunca percebi e agora definiam meu futuro. Eu e meus irmãos estávamos sendo preparados para os desafios da vida através do amor, da honra e da ética.
Semanalmente, meu pai me cobrava uma redação do que fizera durante a semana e confesso que eu fazia a muito contragosto, afinal jogar futebol e brincar com os primos era mais interessante. Ele lia comigo, corrigia os erros de português e concordância e comentava sobre o conteúdo.
Nas entrelinhas, me fazia pensar em atitudes que poderia ter tido em várias ocasiões e avaliar o certo e o errado, ou seja, estava me orientando para a vida como um verdadeiro mestre. Graças a estas lições hoje escrevo meu ‘blog’ www.oquestionador.com.br e publiquei livro sobre liderança e crenças. Ele foi meu co-autor, pois foi meu maior líder.
Assim, minhas escolhas me levaram ao mundo do empreendedorismo com uma base ética sólida e aceitando desafios que muitos não tentaria, e em muitas ocasiões o ensinamento daquele homem impediu que eu seguisse caminhos fáceis e tentadores. A simples sensação que ele reprovaria alguns atos eu honrava a sua memória e seguia o caminho certo.
Certo dia, ao vir a Fortaleza fazer uns exames, visitou pela primeira vez a Faculdade Fateci onde eu era mantenedor e diretor-geral. A Faculdade contava à época com 208 colaboradores e cerca de 3000 alunos e se destacava na área da saúde.
Nunca senti tanta alegria e a sensação do dever cumprido ao observar o orgulho daquele homem quando visitava todos os ambientes da Faculdade e via todo o movimento dos alunos e professores e comentou: puxa filho, você conseguiu fazer tudo isso praticamente sozinho? E eu respondi: sozinho não, acreditei nas pessoas, o senhor e minha mãe sempre estiveram do meu lado, nos momentos mais difíceis eu lembrava de vocês e escolhia o caminho certo que nem sempre é o mais fácil.
Nesta visita, já bastante debilitado e sempre preocupado com Parnaíba, perguntou: filho, você não consegue levar para nossa terrinha um pouco deste seu projeto de ensino? Aí ele pegou pesado e eu tive que abrir uma escola e uma unidade da faculdade em Parnaíba, mas aí é outra história.
A partir desta visita, percebi que dedicara pouco tempo a este homem e a esta mulher que orientaram toda suas vidas a ensinar pelo exemplo a mim, meus irmãos e a todos que os conheciam e passei seus últimos cinco anos indo visitá-los em todas as oportunidades que tinha para ficar exclusivamente com eles.
Obrigado meu pai e minha mãe pelo homem que vocês me ensinaram a ser, sinto muita falta de vocês.