O Jovem e o Velho.

Um dia ao acordar, não tive vontade de levantar. Tentei adivinhar as horas, mas perguntei para quê? Porquê? Que diferença faz se não tenho nada de importante para fazer? e comecei uma incessante busca de justificativas e coisas que valessem a pena para sair da cama.

Minha mente voltou no tempo e como num filme, vi cenas de momentos intensos de realizações, reuniões de negócios e familiares, decisões sendo tomadas e perguntei no fundo da minha busca, que importância tudo isso tem se hoje não tenho vontade de levantar? Tudo que fiz, decisões que tomei, negócios que criei, se perderão no tempo? Todo meu empenho e dedicação foram desnecessárias? Qual a relevância de tudo isso se hoje não tenho vontade de levantar?

Será que todo meu esforço e dedicação resultaram simplesmente numa situação financeira confortável para amenizar o crepúsculo da minha existência? Será que na ânsia destas realizações feri ou prejudiquei outras pessoas? Poderia ter feito melhor? Algum projeto que não realizei por dúvida ou medo do insucesso teria dado certo? Afinal, qual o balanço da minha vida? É importante deixar uma história após minha partida? E para meu espanto, percebi que isso tudo não importava, mas como será minha vida a partir deste momento.

Lembrei que num momento de reflexão, quando estava numa UTI me recuperando de uma cirurgia complicada tomei a decisão que mudou minha vida a partir daquele instante e que tive o prazer de compartilhar em um livro sobre liderança. A partir daquele dia, realizaria 25 missões importantes antes de partir.

As missões seriam escolhidas cada uma no seu momento e durante a minha caminhada pela vida, mas naquele instante uma se apresentou de imediato. A partir daquele dia não trabalharia mais! Isso Mesmo!!!

Esta primeira missão duraria para toda minha vida, pois modificaria o sentido de trabalhar buscando o sucesso pela realização em detrimento do sucesso pelo resultado, ou seja, meu esforço seria direcionado para ações que fossem realmente relevantes em vez do resultado meramente financeiro. Assim, trabalhar seria sinônimo de alegria, trabalhar por prazer.

Imediatamente, a segunda missão se apresentou como consequência da primeira. Como evitar que aquelas frases famosas de “lagrimas na chuva” e “palavras ao vento” se aplicassem na minha caminhada? Então resolvi registrar todos os meus momentos em fotos e vídeos, como um filme da minha existência. Nele apresentaria todos os momentos e lugares que andaria assim como as pessoas que conviveria deixando um legado aos meus descendentes, imaginando que num futuro muito distante ouviria os comentários, “puxa, nosso antepassado não parava, conheceu muitos lugares, muitas pessoas e curtia muitas aventuras cheias de adrenalina” ele realmente viveu!

Em meio às minhas reflexões e buscas de motivação não percebi batiam à porta e me senti muito irritado em pensar que me levantaria por uma simples batida na porta, isto era irritante e ultrajante. Muito a contragosto levantei para atender, mas antes procurei ver quem seria, pois, poderia despachá-lo simplesmente ignorando e esperando que desistisse ou gritando que voltasse outro dia.

Ao olhar pelo visor, tomei um susto e pensei que seria uma brincadeira de alguém que colocara um painel com a minha foto do lado de fora, pois era eu mesmo quem batia à porta. Estarei sonhando e ainda não acordei, como pode ser? Olhei novamente e percebi que o outro “eu” estava de olhar baixo e triste e deu-me a sensação que estava sofrendo e sem esperanças e muito envelhecido e envergado pelo tempo.

Falei sem abrir a porta: – Não sei o que está acontecendo, mas o que você quer? Quem é você?
A resposta veio de uma voz cansada e triste: – Você sabe, você me chamou!

Ainda confuso falei: – Como chamei? Você parece comigo, fala como eu, mas eu não o chamei! Além disso, você é mais velho que eu, embora pareça comigo.

Do outro lado da porta veio a resposta: – Claro que chamou. No momento que você não encontrou motivos para sair da cama!

Espantado exclamei: – Só por isso? Porque sair da cama, se não tenho mais força para muitas coisas e já fiz tudo que gostaria de fazer? Será que estou envelhecendo?

Veio um novo comentário: – Isso acontecerá se não fizer as escolhas certas agora, por isso estou aqui.

Exclamei: – Devo estar sonhando ou morrendo e isso é um pesadelo!

Veio um comentário: – Você não está morrendo, mas vai acontecer um dia. Você está angustiado porque está envelhecendo e sua essência quer continuar jovem.

Refleti sobre aquelas palavras e perguntei: – Porque realmente você está aqui? O que você quer de mim?

O velho do outro lado respondeu: De você, não quero nada, pois já tenho tudo que você sonhou e realizou, mas se você me deixar entrar então você se tornara o que sou e juntos perderemos a alegria de ter vivido plenamente e de envelhecer sabiamente.

Refleti sobre aquelas palavras, olhei demoradamente pelo visor e senti pena daquele velho de cabeça baixa e olhar triste e percebi ter que decidir, ou ele entrava, ou eu saia.

e perguntei: – e se eu sair em vez de você entrar? O que acontece?

Ele respondeu: Se você sair, então eu me tornarei você, e você me salvará do que me tornei por não ter tido a coragem levantar da cama e envelhecer com alegria e poder usar tudo que aprendi para orientar os mais novos.

Com aquelas palavras descobri qual seria minha 14a missão, abri a porta e sai para abraçar aquele velho e vê-lo sorrir, e percebi estar feliz.

Envelhecer é a dádiva de estar vivo, portanto aproveite a vida que você tem e viva plenamente”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *